RABISCO NOIR
Obras de Augusto B. Medeiros,2015. Divulgação. |
Traços, curvas,preto e branco um resumo que parece a primeira vista simples das obras que compõem a nova exposição que está acontecendo na Galeria de Arte do IFRN Campus Natal - Cidade Alta. O artista e também curador Augusto B. Medeiros traz uma série de desenhos inspirados no cinema noir e seu olhar sob a cidade. Como ele mesmo conta em entrevista realizada, ele buscou em seus traços e curvas trazer a leveza da fumaça e do vapor.
Conheça um pouco mais do Augusto Medeiros, no bate-papo sobre sua vida e obra.
J- Você
está expondo agora em Abril na Galeria de Arte do IFRN Campus Natal Cidade
Alta, o que o visitante vai encontrar na exposição Rabisco Noir ?
O visitante irá encontrar uma série de 11
desenhos com contornos minimalistas, que brincam com o contraste entre o preto
e o branco, com traços que desejam transmitir a leveza da fumaça e do vapor. E
nessas imagens ele irá se deparar com uma cidade noturna, com suas casas
noturnas, cafés, bares, boates, uma cidade que possui uma atmosfera de mistério
e sensualidade. Ao mesmo tempo uma cidade suja e hostil, de seres corruptíveis
e que se refugiam em sua introspecção. Esses desenhos, apesar da relação com a minha
subjetividade, possuem também forte relação com o cinema noir. Essa produção cinematográfica firmou-se
principalmente nas décadas de 1940 e 1950 através do cinema norte-americano. São
filmes produzidos a partir de uma literatura de teor policial e investigativo.
Nessa produção os personagens possuem caráter dúbio, essa produção também foi
marcada pela fotografia, pelo trabalho com a luz que se materializa por meio
das sombras e frestas de persianas. Os desenhos são produto do meu olhar sobre
a cidade, mas ao mesmo tempo, sofrem essa interferência do cinema, daí o nome “Rabisco Noir”. O descompromisso do “rabisco” e o termo “noir” que se traduz como “negro”, escuro e que foi utilizado para
nomear essa produção cinematográfica.
J- Augusto,
como despertou o seu interesse pelas artes visuais? Conta um pouco sua
história.
É clichê dizer que desde a infância. Mas é
que tenho memórias em relação ao desenho. Por volta dos 6 ou 7 anos já gostava
muito de desenhar. Mas foi em 2010 que comecei a guarda-los, foi também quando
comecei a pensar em seguir nessa área.
J- Observando
suas obras, é um trabalho bem minimalista com uma riqueza e destaque ao traço, como
se dá o seu processo criativo? Como você descreveria suas obras?
As imagens tem essa relação com o meu olhar
a cidade, mas também se relacionam com as figuras existentes no cinema noir. Sim, minhas obras possuem esse
contorno minimalista, os traços possuem aberturas, não são fechados. Alguns me
perguntam se depois que idealizo as imagens eu as desenho no papel de forma
inteira e depois apago os traços. Mas eu digo que não! As imagens são pensadas
já como uma configuração de traços que em alguns pontos se unem, e em alguns
pontos se afastam. Os desenhos são feitos com grafite de ponta muito fina, pois
foi o material que mais correspondeu às minhas expectativas em relação ao
resultado final, ao efeito que desejo transmitir nos desenhos. Como já mencionei, a ideia é dar a impressão
de fumaça e vapor, ao mesmo tempo em alguns aspectos o traço é firme.
J- Você
acredita que o espaço da internet (redes e mídias sociais) colaboram para o
processo de acesso as artes plásticas?
Sim, sem dúvidas. Através da internet
temos acesso ao acervo de museus e galerias com muito mais facilidade. Ao mesmo
tempo esses veículos têm sido de grande importância para a divulgação de
artistas independentes. Hoje o próprio artista ele é uma importante peça na
divulgação de sua própria arte. Nas redes sociais encontramos o perfil de
artistas e ao mesmo tempo inúmeras páginas de divulgação do trabalho dos
mesmos. Foram das redes sociais, através dos amigos, que vieram os mais
importantes incentivos para a minha arte e para eu estar expondo hoje na
Galeria do IFRN Cidade Alta.
J- Você
percebe alguma mudança no cenário dos espaços de Galerias de Arte, está mais
fácil um artista conseguir expor seus trabalhos ou ainda existe entraves?
Observo
hoje em Natal nas galerias, uma maior iniciativa em apoiar trabalhos
alternativos. Esses espaços estão tentando não apenas englobar a pintura em
tela, mas também abarcar alternativas como as instalações, as performances, e
os artistas que se caracterizam por fazer uma “arte de rua”. Poderia incluir também os novos artistas e os
que buscam por meio do desenho seu veículo de expressão. Mas é claro que existe
ainda um longo caminho a percorrer. Muitos espaços ainda mantém uma postura
conservadora em relação à arte. Natal ainda se distancia de muitos outros
centros urbanos nesse quesito. Mas esses sinais de abertura são sempre
bem-vindos. Devemos olhar a arte em sua pluralidade, na diversidade dos seus
fazeres.
J- Qual
foi sua obra que marcou sua vida?
Escolher entre as obras é difícil, pois
todas carregam um pouco de nós. Mas creio que a obra que mais exemplifica o meu
estilo e que tenho forte relação afetiva se chama “café noir”. Ela apresenta um
homem, ou mulher, como queira, com o rosto apoiado em uma das mãos e em uma
mesa de um café, e embaixo de um foco de luz. Uma imagem que se refere a
introspecção, ao pensamento que se esvai no vapor do café.
J- A arte é?
Eu peço licença para ignorar qualquer
definição pré-estabelecida. Arte para mim é o que me cura, é uma linguagem que
utilizo para suportar o peso da realidade. Sem me comunicar, por meio, da arte,
posso ser esmagado por toda essa “dureza” do real.
J- Um
artista?
Saul Steinberg.
Saul Steinberg. Fonte: http://lucasdelattre.tumblr.com/post/11835888483/saul-steinberg-1956-photo-inge-morath |
J- Minha obra favorita?
Um desenho de 1948 de Steinberg, desenho
sem título em que a silhueta de homem continua o seu traço com algumas voltas
ao redor do corpo. O desenho passa a ideia de que o homem desenhado teria a
autoria dos seus contornos.
Obra sem título, Steinberg, 1948. Fonte: https://direcaodeartedesign.wordpress.com/2011/09/18/exposicao-das-obras-de-saul-steinberg-%E2%80%93-por-jesyka-lemos/ |
São duas: One more cup of coffee de autoria de Bob Dylan e Just in time, interpretada por Nina
Simone.
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J- Minha inspiração é?
Convido
a todos! Principalmente aos que se interessam por arte em geral e por desenho,
bem como por cinema! Abraços!
Muito obrigada pela entrevista, e
desejo muito sucesso!
Jocasta Andrade
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